segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Al Berto (Escrevo-te a sentir tudo isto)


Escrevo-te a sentir tudo isto
e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
as cabras escondendo do delicado tilintar dos guizos nos sais de prata da fotografia
Poderia erguer-me como o castanheiro dos contos sussurrados junto ao fogo
E deambular trémulo com as aves
ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na saliva dos lábios
Poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco morde a sua
imobilidade
Habito neste país de água por engano
São-me necessárias imagens radiografias de ossos
Rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar


Alberto Pimenta (Ligação)






a palavra repousa de olhos semicerrados
encoberta por um véu deixando entrever
uma mama: o poeta aproxima-se tenta ma
mar. a palavra estremece abre os olhos.
o poeta afasta-se de um golpe tropeça
cai sentado. a palavra percorre-se com
as mãos a ver se está intacta. fica
pensativa os dedos enfiados nas tranças
brincando. o poeta aproxima-se então por
trás. agarra a palavra pela cinta. ela
tenta furtar-se ao contacto. caem. rolam
por terra. a palavra continua a debater
se. o poeta mete um dedo na vulva da
palavra. a palavra torce-se toda. depois
acalma. o poeta mete outro e outro de
do ainda, retira um hífen todo molha
do. a palavra cai ofegante. o poeta a
fasta-se com um sorriso mete o hífen a
o bolso e publica-o com uma palavra
sua na capa