quinta-feira, 16 de maio de 2013
Nuno Júdice (Ramo)
Vejo a erosão das palavras na terra
da frase. Transformam-se em lama:
misturam-se com as folhas. Um húmus
de sílabas alimenta o verso.
Com a primavera, o poema nascerá;
e as suas flores cobrirão o campo
com um brilho transparente, deixando
ver o interior de cada imagem.
Corto-as do caule para fazer um ramo
que ponho no vaso da estrofe,
para que não sequem, nem murchem.
São as flores que ficam, as que
duram para o inverno, as que
resistem ao vento, à angústia, à morte.
O Breve Sentimento do Eterno, 2008
segunda-feira, 13 de maio de 2013
domingo, 5 de maio de 2013
Almada Negreiros (Confidências)
Mãe!
Em cima das estátuas está o verbo ganhar, Mãe! será para mim?
Quando passo pelas estátuas fico parado. A olhar para cima das estátuas. Fico parado a subir. Não sei quem me agarra para me levantar ao ar. Agarram-me por debaixo dos braços para me levantar ao ar. Para eu ver o verbo ganhar em cima das estátuas.
(...)
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar historias ricas que ainda não viajei. Traz tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
(...)
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
(...)
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando tu passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!
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