Nuno Júdice (Ramo)
Vejo a erosão das palavras na terra
da frase. Transformam-se em lama:
misturam-se com as folhas. Um húmus
de sílabas alimenta o verso.
Com a primavera, o poema nascerá;
e as suas flores cobrirão o campo
com um brilho transparente, deixando
ver o interior de cada imagem.
Corto-as do caule para fazer um ramo
que ponho no vaso da estrofe,
para que não sequem, nem murchem.
São as flores que ficam, as que
duram para o inverno, as que
resistem ao vento, à angústia, à morte.
O Breve Sentimento do Eterno, 2008